Brazil
September 19, 2025
Casa de Sementes - Photo: Adilson Nóbrega
De 22 a 26 de setembro, a cidade de Delmiro Gouveia (AL) será palco do Seminário do Módulo de Capacitação do Projeto Agrobiodiversidade do Semiárido (AgrobioSA). O evento, coordenado pela Embrapa Alimentos e Territórios, reunirá pesquisadoras, pesquisadores, técnicos e organizações parceiras que compõem a Rede Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) para alinhar estratégias e preparar a equipe que atua na execução do projeto.
O AgrobioSA integra o Programa InovaSocial, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e representa um esforço coletivo para fortalecer a conservação, a produção e a valorização das sementes crioulas, patrimônio genético das famílias agricultoras do Semiárido.
Sob a coordenação do pesquisador Fernando Curado, da Embrapa Alimentos e Territórios, o projeto mobiliza diferentes unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária — entre elas, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Meio-Norte, Embrapa Tabuleiros Costeiros e Embrapa Semiárido — juntamente com as organizações da sociedade civil vinculadas à ASA.
Essa integração confere ao AgrobioSA um caráter inovador, ao unir ciência, inovação social e conhecimentos dos guardiões de sementes para fortalecer os processos de convivência com o Semiárido. A iniciativa prevê beneficiar diretamente cerca de 2 mil famílias agricultoras em sete territórios nos estados de Alagoas, Bahia, Paraíba e Piauí, contemplando comunidades agricultoras, povos indígenas, assentados da reforma agrária e quilombolas nas dinâmicas relacionadas com o manejo, proteção e conservação da agrosociobiodiversidade locais.
Capacitação como eixo estratégico
O seminário em Delmiro Gouveia foi concebido como um espaço formativo e estratégico. A programação abordará temas que vão desde a revisão dos eixos de atuação do projeto até o planejamento das atividades em campo. Entre os principais tópicos estão:
● gestão de redes sociotécnicas;
● conformação de rede de proteção do milho crioulo;
● fortalecimento dos estoques de sementes nas Casas de Sementes e nos Bancos Comunitários;
● estruturação de sistemas de produção, beneficiamento e armazenamento;
● e estratégias de comercialização para ampliar o acesso a sementes crioulas.
Para Curado, a capacitação é decisiva para consolidar a retomada do projeto após o período de paralisação durante a pandemia. “Estamos diante de uma oportunidade singular de alinhar a atuação da Embrapa e de seus parceiros em torno de um mesmo objetivo: garantir que as sementes crioulas continuem sendo a base de sistemas alimentares sustentáveis e resilientes no Semiárido”, avalia.
Representando a ASA, Claudio Ribeiro, assessor de coordenação do Programa Sementes do Semiárido, destaca a importância da cooperação com a Embrapa para proteger o patrimônio genético da região. “A ASA tem uma trajetória de defesa das sementes crioulas como um bem comum. Trabalhar em parceria com a Embrapa significa unir ciência e prática comunitária para ampliar a proteção desse patrimônio e assegurar que ele esteja disponível para as futuras gerações”, afirma Ribeiro.
Entre as metas mais expressivas do AgrobioSA estão a criação da Rede de Proteção do Milho Crioulo, espécie especialmente vulnerável à contaminação por transgênicos; a implantação de bancos territoriais de sementes, que funcionarão como estruturas de conservação de médio e longo prazo; e o estabelecimento de um campo de multiplicação de sementes crioulas em Delmiro Gouveia, que servirá de laboratório vivo para capacitação, pesquisa e troca de saberes com agricultores e agricultoras.
Essas ações, além de apoiar a conservação da agrobiodiversidade, buscam ampliar as oportunidades de renda e fortalecer os mercados locais de sementes, contribuindo para o protagonismo das famílias agricultoras e comunidades tradicionais.
Compromisso com o Semiárido
Com investimento superior a R$3 milhões até 2027, o projeto reafirma o papel da Embrapa como instituição de referência científica e tecnológica também comprometida com a promoção da agroecologia e da valorização das sementes conservadas pelas famílias guardiãs nos territórios. Ao integrar ciência, políticas públicas e práticas comunitárias, o AgrobioSA busca consolidar um modelo de convivência com o Semiárido que valorize os recursos locais e fortaleça a agricultura familiar camponesa.
“O seminário será mais do que um momento de formação. Ele simboliza o compromisso da Embrapa e de seus parceiros em promover a agrobiodiversidade como base para a segurança alimentar, a geração de renda e a sustentabilidade dos territórios do Semiárido”, conclui Curado.